Sino dos ventos

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Minimalismo




Recebi o texto aabaixo, sem menção da autoria. Caso saiba quem é o autor, me informe para eu dar os devidos créditos.

"Uma amiga que mora na Europa há anos, vive com a filha num apartamento de frente para um parque, tem um carro, um emprego e um namorado. Em tese, ela não tem do que se queixar, mas conversávamos outro dia sobre o que significa estar tudo bem. Para ela, tudo bem é experimentar novas formas de existir. A gente assina um contrato de locação de um imóvel, se acostuma com a mercearia da esquina e quando vê está enraizado num estilo de vida que se repete dia após dia, sem testar nosso espanto, nossa coragem, nossa adaptação ao novo. O que você está inventando?, perguntei a ela.

- Vou morar num barco.

Ainda bem que eu estava sentada. Pensei: "Essa garota é maluca". E logo: "Que inveja". Tenho zero vontade de morar num barco. Minha inveja foi do desapego e da facilidade com que ela escreve capítulos surpreendentes da sua biografia. "Tenho coisas demais. Livros demais, roupas demais, móveis demais. Está na hora de viver com menos para poder redefinir o significado de espaço, tempo, silêncio". 

O documentário "The Minimalist" (disponível na Netflix, amado e odiado na mesma proporção), escancara a estupidez do consumo compulsivo, como se ele pudesse preencher nosso vazio. Vazio se preenche com arte, amor, amigos e uma cabeça boa. Consumir feito loucos só produz dívidas e ansiedade.

Temos perdido tempo nas redes sociais, criticando o bandido dos outros e defendendo o nosso, sem refletir que o caos político e social têm a mesma fonte: nossa relação doentia com o dinheiro. A ideia de "poder" deveria estar associada à gestão do ócio, às relações afetivas, ao contato com a natureza e à eficiência em manter um cotidiano íntegro, produtivo e confortável (nada contra o conforto), no entanto, "poder" hoje é sinônimo de hierarquia, acúmulo de bens, ostentação e lucratividade non-stop. É por isso que, para tantas pessoas, é natural incorporar benefícios imorais ao salário, ganhar agrados de empreiteiras e fazer alianças com pessoas sem afinidades, mas que um dia poderão vir a ser úteis.

A sociedade não se dá conta do grau de frustração que ela mesma produz e continua cedendo a impulsos. Um amigo estava na National Portrait Gallery, em Londres, quando, na saída, passou pela loja do museu e percebeu, ao lado do caixa, um aquário cheio de latinhas de metal à venda, pouco maiores que uma moeda. Era manteiga de cacau no sabor "chocolate & mint". Sem hesitar, comprou uma latinha e trouxe para o Brasil: hoje ela reside na bancada do banheiro, intocada, para lembrá-lo de como se pode ser idiota - ele estava dentro de um dos maiores museus do mundo e mesmo assim ficou tentado a comprar a primeira besteira que viu. O exemplo é bobo, mas ilustra como certos gritos ecoam dentro de nós 24 horas:

"Compre! Leve! Aproveite! Você nunca mais será o mesmo depois de usar a triunfante manteiga de cacau da National Gallery"


O único excesso que precisamos é de consciência para não nos deixarmos abduzir por essa forma equivocada de dar sentido à vida."





Crédito
Imagem: Dica prá hoje


 










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