Sino dos ventos

sábado, 25 de janeiro de 2014

Do sonho ao pesadelo - parte II

Leia o post anterior, "Do sonho ao pesadelo - parte I", para compreender melhor este aqui.

Agosto de 2008 - pela enésima vez Flávia contratou o pessoal para limparem o terreno. Os trabalhos de levantamento e sondagem topográficos foram iniciados. Flávia não conseguia entender a finalidade destes trabalhos que lhe custavam mais ou menos 5% do valor total orçado (por ela) para a construção. Certo dia Flávia não foi trabalhar pois imaginava que com sua presença as coisas andassem um pouco mais rápidas. Também queria acompanhar tudo de perto e fotografar todos os momentos. Imaginava que ao final da tarde já haveria uma parede de pelo menos um metro de altura construída em todos os ambientes da casa. Mas que nada! Passou o dia inteiro vendo seu terreno ser medido, marcado, perfurado e sabe-se lá mais o que. O desânimo foi tanto que nem se lembrou da câmera, mesmo porque não havia o que fotografar, apenas o terreno perfurado e alguns homens cobertos de lama. Voltou dois dias depois e teve a impressão de que a obra estava abandonada, pois tudo estava praticamente como ela havia deixado. Mas os funcionários estavam lá e tentavam inutilmente explicar que para se construir uma casa sólida, é necessário que sejam feitas as fundações. No mesmo dia o engenheiro pediu que providenciasse a compra de caminhões de terra. Isso ela não entendia! Há dois dias atrás havia presenciado uma enorme quantidade de terra sendo retirada dos buracos e levada embora. Porque teria de comprar terra? O engenheiro explicou que aquela terra que havia saído "não dava liga" e que era preciso nivelar o terreno. Mesmo a contra gosto, Flávia comprou a terra e o terreno foi nivelado. Para o engenheiro e o mestre tudo estava caminhando na mais perfeita ordem. Para Flávia, era loucura saber que seu dinheiro estava sendo literalmente enterrado e a casa não aparecia.

Outubro de 2008 - as paredes finalmente começaram a surgir e Flávia se sentia um pouco mais aliviada, pois já podia visualizar a casa. Apesar da terra, dos pedaços de tijolos e de todo tipo de material espalhado pelos ambientes, Flávia andava pela casa, imaginava-se acordando na confortável cama em sua suite, preparando o café da manhã para o marido e os filhos, vendo-os sentados à mesa logo ao lado, admirando as flores no jardim, recebendo visitas na sala carinhosamente decorada, o marido preparando churrasco, os filhos recebendo os amigos ... de repente voltou à realidade ao notar o mestre de obras e alguns homens parados olhando para ela. Só ai percebeu que se movimentava como se realmente estivesse dentro de uma casa pronta, mobiliada e vivendo de fato aquelas situações às quais sua imaginação havia dado asas. Se sentiu um pouco aliviada por não ter se deitado ou sentado na terra. Mas algo lhe dava a absoluta certeza de que estaria morando na casa nova muito antes do que haviam previsto o engenheiro e o mestre de obras.

Dezembro de 2008 - em apenas dois meses as paredes foram levantadas e a laje foi colocada. As madeiras e telhas foram entregues e o o telhado começou a tomar forma. Finalmente o tempo estava a seu favor, pensou Flávia. O mestre de obras contratou outros quatro homens para cuidar do esgoto, hidráulica e elétrica. Ela sentiu-se feliz pois estava certa de que seria muito mais rápido quatro pessoas se dedicando exclusivamente a tais atividades. Mas tudo não passava de um pesadelo. Quase todo dia havia uma lista de materiais para comprar, que ela não havia considerado em seus orçamentos, pois desconhecia a necessidade da maioria deles: tomadas, fios, placas, caixas de luz, disjuntores, canos, curvas, tês, luvas, cotovelos, válvulas, conexões, registros, etc. E quase todo dia havia também uma série de itens a serem trocados. Flávia se desesperava. Estava esgotada física e mentalmente, quando foi surpreendida com o pedido para que adiantasse o pagamento do mês (que deveria ser feito no dia 30), pois eles trabalhariam até o dia 19 e só retornariam no dia 05 de janeiro. Flávia chegou ao seu limite e tomou uma decisão radical: dispensou todos eles, engenheiro, mestre de obras e os funcionários. Com a obra parada, passou o Natal e Ano Novo angustiada, chorando a todo momento, principalmente ao se lembrar da previsão de engenheiro, de que a casa estaria pronta no início de dezembro. Ironicamente pensava "porque não perguntei a ele, em dezembro de qual ano?". Seu único alento era a família, pois não haviam cobranças ou críticas. Alcides se revelava um perfeito gentleman, pois a cada dia ajudava ainda mais nos afazeres domésticos. Os filhos estavam diferentes, não brigavam tanto quanto antes e haviam melhorado seu desempenho escolar.


Continua no próximo post.


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