O homem contemporâneo é um passageiro metropolitano. Correndo por todos os lados vai desaprendendo o gosto de apreciar as paisagens externas e as internas, aquelas que expressam nossa afetividade, que seguindo esse ritmo vão murchando, ressecando, levando muitas vezes o passageiro à morte.
A depressão, a solidão, o estresse entre outras doenças contemporâneas são expressão de uma vida em desarmonia com as tensões existentes entre os limites da afetividade e as exigências da competitividade da sociedade do espetáculo.
Na correria do dia a dia o passageiro metropolitano não aprecia o cotidiano. Ele sai todo dia pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que ele vê no seu caminho, ele não sabe dizer. De tanto ver, ele não vê. Não vê os filhos crescerem, emagrecerem ou engordarem, se viciarem, enfim, não vê a si próprio.
Atos automatizados robotizam-nos e, com o passar do tempo, enrijecem nossa alma.
O passageiro metropolitano não tem tempo para apreciar os gestos desengonçados dos familiares, sapatos desalinhados no canto, os encantos e diabruras da infância e da adolescência dos filhos. Sua demonstração de afeto é via internet e ou materializada num presente cujo valor simboliza a justificativa das longas horas de ausência, isso se pertencerem às classes mais abastadas, para terem acesso à esses recursos. Caso não faça parte das classes mais abastadas, nosso passageiro não disponibilizará dessas estratégias, o sentido de vida estará centrado nos recursos básicos para a sobrevivência, revelando um cotidiano mais cruel.
No entanto, possuem algo em comum, pois esses passageiros vão perdendo a sensibilidade e deixando de apreciar a beleza das paisagens particulares, próprias de nossa intimidade. Intimidade que vai além da nudez dos corpos.
Vai perdendo o olhar do estrangeiro que tudo vê e percebe, tal qual o olhar do poeta, que é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê.
Diante dessa realidade desoladora creio que precisamos aprender a reavaliar os sentidos e o significado atribuídos às nossas relações afetivas. Essa atitude sem dúvida poderá despertar o passageiro metropolitano para ver o cotidiano com olhos de quem o vê pela última vez.
A cumplicidade, a curiosidade e a criatividade são ingredientes que poderão colorir os hábitos. Afinal, somos nós que atribuímos significado às coisas e aos relacionamentos.
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